Infringir as leis que regem a boa convivência em sociedade ajuda a tornar o mundo pior.
Certas
pessoas têm a ‘licença poética’ de tratar mal as outras.
Porque têm estilo X ou Y, tal atitude é permitida sem censura
externa. “Ah, deixa pra lá, João é maluco”. Ou, “você vai
se chatear com Pedro? Ele é grosso mesmo”. “Não fica triste com
a atitude da Maria, é o jeito dela!” E nessa, quem segue os
preceitos básicos das relações sociais, acaba se agredindo. Porque
a pessoa que não é grossa, maluca ou não tem um jeito sem jeito de
tratar os outros tem que aceitar que o outro pode burlar algumas
regras, e ela não.
‘Tem
que aceitar’ até certo ponto. Até perceber que não está mais a
fim de brincadeirinhas de mau gosto, ofensas e agressões gratuitas
só para o outro manter a fama de mau. Educar através do exemplo,
como se diz. Mostrar com a forma que você age como gostaria que
agissem. Fico admirada com o ibope que damos aos que nos chateiam, às
notícias que nos agridem. É um pouco viciante ver e rever coisas
ruins. Como se ficássemos metendo o dedo na ferida, cutucando a
casquinha, querendo provocar sensações de emoções ruins para
senti-las de novo. Praticamente dando um replay no que te incomodou,
relembrando uma experiência de morte.
Há
um quê de masoquismo em quem se submete a isso. Em quem flerta com o
sofrimento, acha legal ser maltratado. Eu não acho legal ser
maltratada. Apenas é difícil que alfinetadas me alfinetem.
Realmente não ligo se fulano é grosso, ou quis me agredir, ou
estava totalmente equivocado. Ou não ligava. Percebi agora que
muitas dessas coisas são agressivas só de ouvir ou ler, e não vou
permitir que me agridam. Não da forma anterior, ignorando aquela
ofensa e pensando que é apenas o jeito de quem ofendeu. Mas da minha
forma atual, de compreender que aquilo é nocivo, e por isso não me
deixarei mais ser atacada sem resposta. E a resposta não é o
estresse direto do confronto, como nunca foi. A resposta é a
ausência. Não é simplesmente deixar pra lá, mas deixar a pessoa
lá, bem longe de mim. Ignorá-la por convicção.
Sabe
gordo que faz piada de si mesmo? Nem sempre ele está feliz com isso.
É só uma defesa que encontrou para afastar o bullying. Precisamos
nos lembrar que infringir as leis que regem a boa convivência em
sociedade ajuda a tornar o mundo pior. Delicadeza, zelo e atenção
são o bê-á-bá disso. Sempre digo que time de Primeira Divisão
não pega time de Segunda Divisão (não no campeonato em que foi
rebaixado!). Jogue na sua categoria, sabendo o que sabe fazer. Se se
rebaixar e não souber fazer isso, vai levar um banho. É vitória
certa para o adversário.
Por Karla Rondon (Jornal O Dia)
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